"A maior incerteza levou a que as famílias poupassem mais", explica Pedro Mello e
Castro, responsável de Poupança e Investimento do Santander.
O contexto que estamos a viver hoje serve exatamente para explicar porque é que poupamos. E poupamos, muito simplesmente, para alisar o consumo que temos ao longo da vida.
Nos últimos 20 anos o mundo mudou muito e as famílias já perceberam que têm ciclos económicos mais curtos. Tivemos uma crise financeira profunda há 10 anos, tivemos uma crise sanitária muito forte recentemente, que levou também a uma crise económica e, paralelamente, temos ciclos de trabalho também muito mais curtos.
A pandemia de COVID-19 veio acelerar uma série de competências digitais e tornar obsoletas outras competências. As pessoas têm de estar cientes do nível de poupança que precisam para investir em formação ao longo da vida, para ter ciclos de trabalho mais curtos, para investir na educação dos filhos e depois, para a mãe das necessidades, que é a reforma. Que também sem a ser posta em causa por esta crise sanitária, porque obrigou os estados de todo o mundo, e Portugal não foi exceção, a aumentar a sua dívida e a pôr em causa a sustentabilidade de algumas rubricas do estado social, em particular, da reforma.
Nos últimos 20 anos, passámos de uma sociedade de consumo para uma sociedade de poupança. Se olharmos para o que se poupava nos anos 70 e nos anos 80, de facto, estamos a falar de níveis muito diferentes. Depois houve toda a privatização da banca, a explosão do crédito e, de facto, as coisas hoje são muito diferentes.
É cultural, tem a ver também com a época que vivemos, mas também com uma situação que, em Portugal e noutros países do sul da Europa, é muito característica - a percentagem das casas que é detida pelos próprios.
O mercado de arrendamento nem sempre funcionou da melhor forma. Uma parte da não poupança das famílias está refletida na compra de uma casa que, na prática, é o grande ativo das famílias portuguesas.
Os estudos mais recentes indicam que cerca de metade do património das famílias está nas casas e, portanto, esse é o grande ativo e a grande poupança das famílias.
Sabemos que, nos últimos anos, os portugueses poupavam 6% a 7% do rendimento disponível. É um valor anual muito baixo, historicamente.
Isto compara com taxas de dois dígitos não muito distantes e, ao longo desta crise, o curioso é que a maior incerteza levou a que as famílias poupassem mais. Os últimos números que temos disponíveis já apontam para valores na ordem dos 12% - um aumento de 5 a 6 pontos percentuais, muito relevante e muito significativo.
As pessoas têm mais consciência da imprevisibilidade e da necessidade de garantirem uma estabilidade financeira a médio e longo prazo. Com a incerteza, perceberam que há que ter dinheiro de lado para os tempos mais desafiantes que aí vem.
Não há um número mágico para podermos dizer com segurança que os portugueses fazem uma poupança justa. Depende de família para família. Ao longo da vida há ciclos diferentes de investimento: na educação dos filhos, na saúde, na reforma... Cada etapa da vida tem exigências diferentes.
O que é importante é que as pessoas tenham um instrumento muito simples que é o orçamento familiar - não é mais do que saber quais é que são os principais custos que eu tenho, os principais proveitos que eu tenho e conseguir projetá-los. Havendo um controlo sobre essas rubricas, todo esse exercício ao longo da vida se vai tornar muito mais assertivo, muito mais orientado para aquilo que são as necessidades das pessoas que culminam com a reforma.
Sugiro a todas as pessoas que vão ao site da Segurança Social, por exemplo, onde podem projetar quando é que vão receber na reforma. Num contexto em que as pessoas vão viver muitos mais anos, muitas delas terão reformas antecipadas, que são extremamente penalizadoras. E é importante que as pessoas possam ter meios para poder aproveitar essa fase da vida, que é extraordinária.
Este exercício pode ajudar a determinar quanto é que as pessoas querem ganhar - porque depois fazem as contas e percebem quanto têm de poupar para manter o seu nível de vida.
Há dicas importantes, mas poupar não é uma ciência oculta. Comecemos com um exemplo muito simples e mensurável: o valor de um maço de cigarros por dia, bem capitalizado num produto de investimento interessante, pode valer várias dezenas de milhares de euros ao fim de 30 anos.
Há pequenas coisas que se podem fazer: se as pessoas analisarem e repensarem os seus principais gastos do dia a dia, conseguem perceber que, alguns desses valores acumulados durante muitos anos fazem a diferença.
Isto implica uma educação financeira e capacidade de gestão, e há muitas pessoas que têm dificuldade em orientar-se. Mas falamos essencialmente de 2 planos:
Hoje os intermediários financeiros em Portugal estão muito bem preparados para aconselhar as pessoas. Desde que a nova diretiva dos mercados financeiros foi transposta, todos os intermediários têm formação acrescida, têm muito mais informação. Não há razão para as pessoas não os procurarem e não pedirem orientações para rentabilizar o seu património, que é algo crítico.
Os seguros financeiros são dos instrumentos mais interessantes em Portugal, do ponto de vista do investimento a médio-longo prazo e também do ponto de vista fiscal. A partir do 8.º ano, têm uma taxa de fiscalidade de 40% da taxa normal.
Conjugado com outros instrumentos financeiros que temos em Portugal, como os fundos de investimento ou fundos de pensões, há hoje uma oferta de produtos financeiros para todos os perfis, todos os horizontes temporais e todos os riscos. E é muito fácil as pessoas saberem como funcionam estes produtos e entregar o dinheiro à gestão de profissionais.
Esta não é uma questão de idades: uma pessoa com 55 ou 60 anos tem mais 25 anos de vida pela frente. Se olharmos, por exemplo, para aquilo que aconteceu nos últimos 20 anos nas bolsas, quem investiu num índice de ações diversificado nos Estados Unidos duplicou o seu património.
Passaram-se várias crises pelo meio e extremamente profundas, mas quem tem horizontes, tem sempre uma pequena parte do património que pode investir a 5, a 10 ou a 15 anos. Em Portugal há instrumentos diversificados, para todos os perfis e todos os horizontes:
Os PPR são produtos com fiscalidade ainda mais atrativa e são muito simples de perceber. Já não são comercializados produtos garantidos. Nos produtos não garantidos, o risco implícito é igual, independentemente do veículo.
Seja ele PPR, seja fundo de investimento, seja um seguro financeiro - porque há perfis de investimento que combinam classes de ativos de ações ou de obrigações para todos os gostos. E o cliente não tem de ser especialista: entrega o dinheiro a profissionais que estão no mercado todos os dias e isso é que é importante.
Portugal teve crises muito profundas. Mas a história dos últimos 20 anos mostra-nos que as crises passam, mas há uma máxima que se mantém: a longo prazo, os mercados financeiros remuneram melhor os aforradores do que qualquer outro tipo de aplicação. É importante as pessoas terem isto presente e afastarem-se do hábito de verem, todos os dias, como é que as suas poupanças evoluem.