A pandemia favoreceu os fundos de investimento ou acentuou o risco? Nuno
Henriques, CEO da Santander Asset Management, explica este intrumento financeiro.
Nos últimos anos, tem aumentado o conhecimento em torno dos mercados financeiros. As pessoas estão mais despertas para as potencialidades e para os perigos dos investimentos.
São veículos de investimento coletivo que permitem agregar o património individual de vários clientes e aplicá-lo em vários ativos financeiros, como é o caso de ações, obrigações, matérias-primas e também ativos reais, como o imobiliário.
Ao valor que cada cliente investe são atribuídas unidades de participação, correspondentes ao valor diretamente proporcional ao montante investido no fundo de investimento.
Há vários tipos de fundos, cada um com uma política de investimento própria, e com mais ou menos risco.
O risco associado a cada um dos fundos de investimento varia: enquanto os fundos de curto prazo ou de obrigações têm um risco menos elevado, os fundos de ações têm um risco mais elevado - mas tipicamente associado a um maior potencial de rentabilidade.
É muito importante que o cliente conheça o produto e há várias maneiras de o fazer: conversando com o seu gestor, consultando prospetos dos fundos e folhetos. Nem todos os fundos de investimento são adequados para todos os perfis de risco dos investidores. Por isso, seja qual for o veículo de informação, é importante analisar:
As pessoas fazem muitas perguntas sobre este tema e tendem a olhar mais para a rentabilidade histórica. No entanto, a rentabilidade histórica acaba por não ditar o comportamento futuro, uma vez que a maioria dos produtos não tem capital nem remuneração garantida.
Mas à medida que a literacia financeira aumenta, as perguntas aumentam e o seu nível de profundidade também.
A conjuntura atual é bastante favorável aos fundos de investimento.
A crise da COVID-19 trouxe uma grande intervenção dos bancos centrais, não só na Europa mas também nos Estados Unidos. Isso teve consequências negativas para os investidores que, tipicamente, aplicavam o seu dinheiro em depósitos a prazo: a taxa de juro atual é extremamente baixa e a perspetiva é que se mantenham baixa durante muitos anos.
As pessoas que investiam dinheiro em produtos sem risco – os depósitos a prazo – começam a procurar alternativas. E os fundos de investimento acabam por ser uma excelente alternativa para a diversificação da poupança dos clientes.
Os depósitos a prazo estão em declínio porque não potenciam nenhuma remuneração. Com níveis de inflação perto de 1,5%, acaba por haver perda de capital para os clientes ao longo do tempo, porque a taxa de juro real é negativa. Os clientes acabam por escolher fundos de investimento – produtos que oferecem, obviamente, um risco maior que os depósitos a prazo, mas que oferecem uma diversificação e um potencial de retorno bastante mais interessante que os produtos tradicionais.
Há uma métrica de risco europeia, da CMVM, para calcular o risco de retorno. Cada fundo de investimento é classificado numa escala de 1 a 7, com base no seu risco e na sua volatilidade.
Produtos com pouco risco estão próximos de 1 e produtos com mais risco são classificados entre 5 a 7.
Os clientes não podem alterar os seus fundos de investimento, mas podem resgatar o fundo de investimento e ir para outro tipo de fundo de investimento – ou com mais risco, ou com outra filosofia de investimento, ou com menos risco. É possível, a qualquer momento, alterar os fundos de investimento que têm uma liquidez de 100%.
Na maioria dos fundos de investimento consegue-se transformar as unidades de participação que cada cliente tem em liquidez, num prazo máximo de 5 dias. É sempre possível resgatar e, tipicamente, não existe penalização para fazer o resgate, nem comissão de resgate. Portanto, os clientes têm sempre a possibilidade de alterar o nível de risco ou o tipo de fundo de investimento que têm na carteira.
Os portugueses são investidores muito conservadores. Mais de 2 terços das poupanças das famílias em Portugal estão em património financeiro e depósitos a prazo, sem contar com os bens reais, como é o caso das casas.
O investidor português não é um investidor de risco: privilegia os depósitos a prazo e se privilegia outros tipos de investimentos acaba por ir para fundos que têm riscos bastante mais baixos, como é o caso das obrigações.
Talvez seja por falta de cultura financeira, porque este tipo de produtos pode acrescentar, a médio-longo prazo, muito mais retorno do que os depósitos a prazo. Está provado, por exemplo, que ações a médio e longo prazo, ou seja, a 10, 15 ou 20 anos, são o melhor investimento apesar da sua volatilidade. Para dar um exemplo, o ano passado, mesmo com a crise da COVID-19, as ações acabaram por estar acima do ano anterior.
É um tempo de espera longo, mas são poupanças para fazer face também a compromissos muito longos. São poupanças que não são para fazer face a compromissos a 1, a 2 e a 3 anos. Eventualmente são poupanças para a reforma, são investimentos que acabam por estar ajustados ao prazo em que as pessoas vão precisar do dinheiro.
Para o curto prazo, é sempre aconselhável ter produtos com menor volatilidade, produtos de tesouraria ou de obrigações, porque tipicamente esses ativos, no curto prazo, não têm oscilações significativas. Assim, se o cliente precisar de dinheiro de um dia para o outro, não é penalizado no capital que investiu inicialmente.
A conjuntura económica mundial, com uma taxa de juros extremamente baixa, tem favorecido muito a deslocação do dinheiro que estava em depósitos a prazo, ou até em certificados de aforro, para fundos de investimento.
Há cada vez mais pessoas a compreender a dinâmica dos fundos de investimento e a optar por estes e outros produtos similares, para diversificarem as suas poupanças. É o caso dos seguros de capitalização, por exemplo - veículos de investimento que, em vez de serem emitidos por entidade gestoras no formato de fundos, são emitidos sob um formato de seguro. Em termos jurídicos são diferentes, mas em termos práticos funcionam de forma muito semelhante aos fundos de investimento.