Gostava de aumentar os seus níveis de literacia financeira, começar a investir e ganhar mais dinheiro? Para ajudá-lo, conversámos com Bárbara Barroso a propósito do mais recente livro “Ponha o seu dinheiro a trabalhar para si”.
Falar sobre literacia financeira em Portugal é falar de Bárbara Barroso. Começou a sua carreira como jornalista de economia, mas há mais de 10 anos que adotou a missão de ajudar os portugueses a aumentar os seus conhecimentos sobre gestão de dinheiro, poupança e investimentos.
É autora de livros, tem um blog e um podcast, faz consultoria financeira e dá workshops sobre finanças pessoais e gestão de orçamento familiar. Em 2022, lançou o seu quarto livro: “Ponha o seu dinheiro a trabalhar para si - 7 passos para aprender a investir e a atingir a liberdade financeira”, da editora Planeta Estratégia, que pretende dar as ferramentas necessárias para que os portugueses deixem de trabalhar por dinheiro e que seja o dinheiro a trabalhar para si. Falámos sobre o estado da literacia financeira em Portugal, conceitos que todos os portugueses deviam ter na ponta da língua, erros de principiante nos investimentos e como passar pela crise da inflação sem sentir muitos estragos nas finanças.
A literacia financeira é a capacidade de tomar as melhores decisões sobre a vida financeira. Todos temos de lidar com dinheiro, sobretudo desde que começamos a trabalhar e a receber salário. Por exemplo, a determinada altura, somos obrigados a fazer uma declaração de IRS sem nunca ninguém nos ter explicado como se faz. Todos temos que abrir uma conta bancária para começarmos a trabalhar. São obrigações com linguagem difícil, que podem ter grande impacto na nossa vida financeira. O dinheiro ainda é um tabu, mas temos que saber lidar com ele. Quando damos as ferramentas e o conhecimento necessário às pessoas para tomarem decisões, estamos a capacitá-las.
Os últimos dados do Banco Central Europeu demonstram que Portugal está na cauda na Zona Euro em termos de literacia financeira. Numa primeira instância pode estar relacionado com a educação, independentemente de ser financeira ou não. A educação é o que rompe a pobreza entre gerações e pode ajudar a quebrar as amarras, caso tenhamos nascido em contextos menos favoráveis, com menos oportunidades. A educação dá oportunidades.
O nosso nível de escolaridade tem vindo a aumentar, mas ainda existe um longo trabalho a fazer. Primeiro é preciso capacitar as pessoas num todo e depois capacitá-las em certas skills fundamentais, como comunicação e educação financeira. Temos uma cultura de penalizar a falha e o erro. Isso leva a que as pessoas tenham vergonha de dizer que “não sei” ou fazer perguntas. O meu objetivo não é que as pessoas sejam diretores financeiros, mas que, no limite, saibam fazer as perguntas certas.
Um deles está na boca do povo: a inflação. Durante muito tempo tivemos uma inflação baixa e pensava-se que era um conceito macro-económico, que só os economistas sabiam e falavam. Mas é importante que saiba que a inflação é um agente corrosivo da poupança e do dinheiro. Por cada dia que passa e que tenho o meu dinheiro parado, estou a empobrecer e perco dinheiro de compra. Isto é um conceito fundamental. É importante entender que ao longo da vida, é necessário ter aumentos salariais e ganhos iguais ou superiores à inflação, porque senão ficamos mais pobres. Ao fazer poupanças e investimentos, temos que conseguir retornos acima da inflação para criar riqueza.
Outro conceito são os juros compostos. Eu chamo-lhe o fermento das poupanças. É explicado na escola, em matemática, mas como não lhe dão um contexto e uma aplicação prática, os alunos desligam a cabeça. Mas o efeito de capitalização, que os juros capitalizam sobre juros, permite que haja um efeito de bola de neve positivo nas nossas poupanças. Se juntar a inflação com os juros compostos, vou estar melhor preparado para o meu futuro. Se conseguir um retorno acima da inflação e que capitalize sobre juros, estou a criar riqueza.
Falar de dinheiro em casa devia ser um hábito. Obviamente falamos de conceitos adequados à idade: quando são pequenos devem fazer o porco mealheiro e meter a moeda. Já no primeiro ano da escola, as crianças devem receber algumas moedas para fazer as suas compras. Separar dois ou três mealheiros, o de “poupar”, onde colocam o dinheiro para comprar livros ou cromos, qualquer coisa de curto prazo. O mealheiro do “gastar”, onde colocam o dinheiro que é para gastar. Por fim, o “doar”, para incutir a solidariedade. É ainda importante guardar uma parte desse dinheiro no banco e explicar às crianças que aquela quantia será para usarem quando forem crescidas, para poderem estudar no estrangeiro ou comprar um carro.
Aconteceu ganância com iliteracia financeira. Tinha investido num produto estruturado, porque seguia um investidor que investia em mercados de futuros, que não é para todas as pessoas. Costumo dizer que o pior que pode acontecer quando começamos a investir é correr bem. Eu achava que era a próxima loba de wall street. Mas, quando não somos humildes com o mercado, o mercado dá-nos uma lição de humildade, quer sejamos experientes ou inexperientes. Comecei a arriscar mais. Mas foi um erro. Devemos sempre colocar os chamados stop loss, um limite na perda. Eu não coloquei e como era um produto alavancado, o dinheiro desapareceu. Eu não tinha experiência nem literacia para o que estava a fazer.
Não. Só chorava. Foi tão duro, passei por vários estágios: de pânico, incredulidade e de pensar que nunca ia investir na vida. Mas depois parei e refleti: vou aprender para que isto nunca mais aconteça. A minha jornada começou aqui.
Não investir no que não se entende. É preciso ter literacia financeira para investir nos mercados, porque é um mundo que nunca mais acaba. Às vezes queremos enriquecer rapidamente, como vemos nos filmes de Hollywood, mas isso não acontece na vida real. Eu percebi que não estava a investir, estava a jogar. A bolsa não é para jogar. Perdi, mas retirei ensinamentos.
Há toda uma metodologia que eu aprendi ao longo de vários anos, a trabalhar com dezenas de pessoas, para perceber o que funcionava e que eu apliquei na minha vida. “Pôr o dinheiro a trabalhar para si” é, no fundo, investirmos o nosso dinheiro. Em vez de trabalharmos por dinheiro, é termos as nossas poupanças a renderem e a trabalharem para nós.
Há um conceito muito importante que há pouco não falei, que é o da renda passiva. É o oposto da renda ativa, gerada pelo trabalho. Quando trabalhamos há uma relação direta entre o meu trabalho e o dinheiro: se não trabalharmos não recebemos. Ora, uma renda passiva não está dependente do trabalho. Uma das formas mais conhecidas é o arrendamento. Comprar uma casa, arrendá-la e receber uma renda. Pode estar a dormir e continuar a receber. É uma renda passiva, que não depende do meu trabalho. O livro ensina a fazer isto.
Exatamente. Uma das barreiras ao imobiliário é o montante de investimento. Uma das formas de investir é através dos fundos imobiliários, que é uma exposição indireta. Não tenho um prédio, mas tenho uma parcela. O que é que isso significa? Que em vez de ter 200 000 euros para investir, posso fazê-lo com 50 ou 100 euros. O que o livro vem mostrar são as diferentes formas que existem para obter rendimentos passivos.
O que me faz gostar tanto da bolsa é que é democrática: todas as pessoas podem entrar e não necessitam de muito dinheiro, ao contrário do que muitas vezes é vendido. Há um mito urbano de que é preciso ser rico para investir. Mas é mentira. Não é preciso ter muito dinheiro para começar a meter o dinheiro a render. As pessoas não têm literacia, deixam o dinheiro parado, a inflação está a subir, o que é que acontece? O empobrecimento.
Neste aspeto, ser rico ou pobre tem a ver com mentalidade e não com o dinheiro que tem no banco. Existem formas diferentes de encarar o dinheiro. Uma delas é a responsabilização. Uma pessoa com mente de pobre culpa tudo à sua volta, mas alguém com mente de rico, responsabiliza-se. Outra questão é que não bloqueiam com o erro. Se há um investimento que corre mal, estudam e continuam em frente. Alguém com mentalidade pobre fica a massacrar-se. As pessoas com mentalidade de rico procuram criar riqueza e ser eternos aprendizes. Hoje em dia, com a quantidade de informação gratuita (eu tenho um podcast sobre este tema) não há desculpas. Quem tem mentalidade de rico não arranja desculpas. Faz e ponto. Há características diferentes. Tem a ver com uma base cultural. Quando trabalhamos a nossa mentalidade, podemos alcançar grandes resultados.
O primeiro investimento deve ser em conhecimento. Porque quando se tem conhecimentos, temos a capacidade de avaliar os riscos. Apesar de os dados dizerem que o perfil do investidor português médio é conservador, eu não acredito. Acredito que é conservador porque não tem conhecimento financeiro. Se tivesse, já não teria tanto medo.
Há muita gente a arriscar no Euromilhões e a probabilidade de sair é inferior a meter um homem na lua. Mas investem… Têm a capacidade de, todas as semanas, colocar esse dinheiro na expectativa de ganhar. Mas isto tem uma explicação. Nos países em que existe maior distanciamento entre as classes baixas e altas, as pessoas acreditam que a principal forma de enriquecerem é através da sorte. Se quem arrisca nestes jogos de sorte ou azar investisse, com o mesmo nível de consistência, todas as semanas, num PPR ou certificado de aforro, chegaria à idade da reforma com um bom pé-de-meia em termos de complemento de reforma.
O orçamento é a base para compreendermos o nosso padrão de consumo. Só quando fazemos este levantamento é que temos a noção do dinheiro que gastamos e de como conseguimos poupar. Às vezes temos uma ideia, mas podemos gastar mais dinheiro em determinada despesa do que imaginamos. Só quando fazemos este exercício é que temos a real noção e podemos encontrar aquilo a que chamo “poupanças escondidas”. Por exemplo, contas que estão abertas, mas só dão despesas e já podiam estar fechadas, serviços que não utilizamos ou que estão com preços desajustados. Só olhando para as receitas e despesas é que conseguimos identificar estas falhas.
O fundo de emergência é o primeiro patamar de poupança e investimento que devemos ter. Não faz sentido estarmos a poupar a longo prazo, se não tivermos uma poupança para salvaguardar um imprevisto no presente.
Para conseguirmos ultrapassar melhor ou menos mal esta situação, temos que aumentar a capacidade de poupança. Não há hipótese. E esta capacidade advém de dois pratos da balança: as receitas, ou seja, encontrar outras fontes de rendimento. Mas, para algumas pessoas, é difícil aumentar as receitas. Nestes casos, a maneira mais rápida é olhar para as despesas e cortar.
Os dados do INE dizem-nos que as despesas que mais pesam no orçamento familiar é a habitação, alimentação e transportes, portanto qualquer ajuste ou corte que possa ser feito nestas rubricas ajuda a atenuar o efeito que o aumento dos preços terá no futuro. Um aspeto que considero importante é olhar para os serviços e negociar os preços (gás, eletricidade e telecomunicações) que, por inércia, não costumamos fazer. No fundo, é ajustar o padrão de consumo à nova realidade. Este é também o momento para reforçar o fundo de emergência caso seja necessário. É importante garantir que temos um colchão para amortecer eventuais crises.
Gostava que as pessoas começassem a investir e a rentabilizar as poupanças. Este era o livro que eu queria ter lido quando comecei a minha jornada. Na minha opinião é uma verdadeira bíblia das finanças pessoais. Quem não sabe por onde começar a poupar e investir, pode começar por aqui.
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