Aos 9 meses de idade, Patrícia Soares dos Santos foi diagnosticada com Atrofia Espinhal do Tipo 2. Esta doença rara nunca foi um obstáculo para que a Patrícia realizasse os seus sonhos. Neste segundo episódio do podcast “Mudar o Mundo” by Santander, descobrimos a reviravolta que a sua vida levou.
O seu problema de saúde nunca foi um fator impeditivo para que a Patrícia estudasse, trabalhasse e realizasse os seus sonhos.
A Atrofia Espinal Progressiva do Tipo 2 é uma doença genética. Já nasci com a doença, foi diagnosticada aos 9 meses. Por isso, desde sempre que sei e sempre aceitei as limitações que tinha. Sempre estive em escolas normais, públicas, no ensino normal - foi tudo muito normal, dentro das minhas limitações. Nunca me senti limitada.
Comecei a inserir-me no mercado de trabalho ainda na altura da escola, porque tive estágios e íamos para empresas. A primeira barreira que senti foi exatamente num estágio: uma agência de turismo disse à escola que não me podiam aceitar como estagiária porque eu ia estar no atendimento ao público e isso ia ser mau para a imagem da empresa.
Não fiquei triste ou revoltada por estar numa cadeira de rodas, mas fiquei revoltada com aquela empresa. Pensei: “como é que é possível uma empresa conhecida ainda ter este tipo de pensamento?”.
Fui para outro estágio e correu super bem. Quando acabei a escola, enviava currículos mas punha sempre uma nota a dizer que estava numa cadeira de rodas. Fui chamada para entrevistas talvez 2 ou 3 vezes em 5 anos.
Tive conhecimento, através das redes sociais, do projeto de empregabilidade da Associação Salvador. Falei com o Salvador, falei com a associação e inscrevi-me. Na entrevista com o Santander, senti logo que havia uma abertura muito grande: era o primeiro caso, havia necessidades que eu precisava, para as quais o banco não estava adaptado, mas disseram-me logo “tudo bem, isso resolve-se”. Quando soube que tinha sido selecionada para o Santander fiquei super feliz - e desde o início sempre foi super normal.
Nunca senti barreira nenhuma e quando havia alguma dificuldade era ultrapassada logo. Sempre tive colegas que me ajudavam na hora das refeições - porque eu não como sozinha – e até me convidavam e perguntavam “como é que se dá?”. Sempre, desde o início, desde que vim para o Santander.
Entretanto o Santander arranjou uma pessoa para ajudar, porque já há mais pessoas com necessidades especiais. O que é estranho, às vezes mete medo. Mas a nível de barreiras ou de me sentir excluída... isso nunca.
Lembro-me muito bem do primeiro dia de trabalho no Santander. Eu já tinha tentado abrir conta no banco e, na altura eu não assinava - o meu Cartão de Cidadão dizia “não pode assinar” - e nenhum banco aceitava uma conta só minha. Tinha sempre de ter outra pessoa na conta. O Santander foi o primeiro banco em que a impressão digital era a minha assinatura. Foi o Santander o meu primeiro banco, com uma conta só minha, e foi nesse dia, foi no primeiro dia de trabalho.
Um dos desafios das pessoas com deficiência motora passa por derrubar preconceitos, derrubar ideias feitas relacionadas com as capacidades de trabalho das pessoas com deficiência. Não é nada contra mim ou contra as pessoas que têm uma deficiência. O ser humano é assim – o que é estranho faz confusão.
Se eu me aceitar é muito mais fácil as outras pessoas aceitarem-me. Portanto, se eu levar a minha doença e a minha limitação com leveza, é mais fácil os outros também a levarem.
Lembro-me que, nos primeiros dias eu ia à casa de banho só para me ver ao espelho. Não era para mais nada, era só para me ver ao espelho. E a porta da casa de banho está fechada. Lembro-me que chegava ao pé da porta da casa de banho e olhava para quem estivesse ali sentado para pedir que me abrisse a porta. E as pessoas ficavam com medo de que eu fosse pedir ajuda para ir à casa de banho. Sei que não é por maldade, mas as pessoas estranham.
A partir do momento em que eu levo as coisas de forma natural, as pessoas também o começam a fazer. Depois disso, eu ainda estava a chegar à porta da casa de banho e já me perguntavam se queria que abrissem a porta. Fui desmistificando algumas coisas que podiam fazer confusão às pessoas e hoje em dia já não sinto isso.
É muito engraçado dizer que o trabalho no Santander deu-me aquilo que era, se calhar, impensável ter: a independência. Apesar de eu estar sempre dependente de terceiros, tenho a minha independência financeira. Neste momento já vivo sozinha com o meu namorado. É graças ao facto de ter um trabalho que posso pagar as contas, a água, a luz, a casa... como uma pessoa normal.
A palavra-chave é, sem dúvida, desmistificação. Nem é o preconceito, é mesmo a desmistificação. Todas as doenças e todas as deficiências têm as suas limitações, mas é a abertura das empresas para tentarem perceber se aquela pessoa é capaz de cumprir aquela função, se a empresa está preparada e para arranjar os meios para aquela pessoa desempenhar a função.
O mundo perfeito há de chegar: ainda temos um longo caminho pela frente, mas não quer dizer que não seja possível.