Ambientes onde decorre a negociação de ativos e valores mobiliários: assim se podem descrever os mercados financeiros. Mas sabe como funcionam? E quais os tipos que existem?
Entender como funcionam os mercados financeiros é o primeiro passo para tomar decisões de investimento mais seguras e aproveitar melhor as oportunidades de crescimento económico. Venha explorar connosco, em pormenor, este tema.
Locais, físicos ou virtuais, onde compradores e vendedores se reúnem para negociar diferentes tipos de ativos financeiros, quer sejam ações, obrigações, moedas, commodities, entre outros. A função principal é ligar quem tem dinheiro para investir (os investidores) com quem precisa de financiamento (empresas, governos ou outras entidades).
Estes mercados desempenham um papel importante na economia, ao facilitarem a movimentação de capital e a gestão de riscos, e ajudam os investidores a obter retorno sobre o dinheiro. Garantem, ainda, o fluxo eficiente de capital entre os diversos setores económicos, o que acaba por promover o crescimento e o desenvolvimento.
Para além de facilitar a circulação de capital entre diferentes setores, estes também contribuem para a eficiência económica, a inovação e o crescimento sustentável. Porquê? Ora veja:
1. Mobilização de poupanças e financiamento de investimentos: permitem canalizar as poupanças para investimentos produtivos, financiando empresas e projetos que impulsionam o crescimento económico
2. Alocação eficiente de recursos: facilitam a alocação de capital para as empresas e setores que mais necessitam e asseguram que os recursos são usados de forma eficiente para maximizar o retorno económico
3. Facilitação do comércio e expansão global: ao darem acesso ao financiamento e liquidez, os mercados financeiros agilizam o comércio internacional e o investimento estrangeiro, o que promove a expansão global das economias
4. Criação de empregos e desenvolvimento económico: os mercados financeiros apoiam o crescimento das empresas, permitindo-lhes expandir operações, criar empregos e, assim, estimular o desenvolvimento económico
5. Determinação de preços e gestão de riscos: os mercados estabelecem os preços de ativos financeiros com base na oferta e procura. Tal ajuda na gestão de riscos através de instrumentos como derivados, que protegem contra flutuações de preços
6. Promoção da estabilidade financeira: os mercados financeiros equilibram a oferta e a procura de capital e promovem a estabilidade ao mitigar flutuações económicas severas e reduzir a probabilidade de crises
7. Inovação e desenvolvimento tecnológico: através de financiamento e capital de risco, os mercados financeiros incentivam o investimento em inovação e tecnologia, o que acaba por impulsionar o progresso e o desenvolvimento económico
8. Aumento da riqueza e bem-estar das famílias: por último, ao oferecerem oportunidades de investimento, os mercados financeiros ajudam as famílias a aumentarem a riqueza, promovem poupança e potencializam o bem-estar financeiro a longo prazo.
Na prática, os mercados financeiros são plataformas onde compradores e vendedores se encontram para negociar diversos ativos como ações, obrigações, moedas e derivados. O funcionamento destes mercados baseia-se na oferta e procura, que determina os preços dos ativos. Os investidores com fundos disponíveis (excedentes) procuram investir para obterem um retorno, enquanto as empresas e governos, que necessitam de financiamento, emitem ativos para arrecadarem capital.
O processo de negociação nestes mercados pode ocorrer de duas formas principais:
1. Mercado primário: onde as empresas, governos e outras entidades emitem novos títulos como ações e obrigações, para o público pela primeira vez. Por exemplo, quando uma empresa lança uma oferta pública inicial (IPO, no acrónimo original), ela está a vender ações pela primeira vez no mercado primário, diretamente aos investidores
2. Mercado secundário: uma vez que os títulos são emitidos, estes passam a ser negociados entre investidores no mercado secundário. Aqui, os preços são ditados pelas forças do mercado.
Imagine o seguinte cenário: uma empresa portuguesa chamada Tecnologia X quer expandir operações e precisa de 10 milhões de euros para abrir uma nova fábrica. Em vez de pedir um empréstimo bancário, a empresa decide vender ações no mercado de ações, abrindo parte da sua propriedade aos investidores.
Investidores individuais: particulares que compram e vendem ativos financeiros para os seus próprios portfólios, com objetivos como poupar para a reforma ou gerar rendimentos extra.
Empresas: participam para captar capital, emitindo ações ou obrigações.
Governos: emitem títulos de dívida para financiar projetos e controlar a política monetária.
Instituições financeiras: bancos, fundos de pensões e seguradoras atuam como intermediários e também investem diretamente em vários mercados.
Existem vários tipos de mercados financeiros, e cada um funciona de forma diferente. Conheça os principais:
1. Mercado de ações: onde são compradas e vendidas as ações das empresas. Ao adquiri-las, compra uma pequena parte de uma empresa e torna-se co-proprietário. O objetivo? Lucrar com a valorização das ações ou receber dividendos
2. Mercado de obrigações: aqui, governos e empresas emitem títulos de dívida (obrigações) para arrecadarem dinheiro. Em troca, os investidores recebem juros ao longo do tempo e o valor investido no final do prazo. As obrigações são consideradas menos arriscadas do que as ações, porque oferecem um rendimento mais estável
3. Mercado de câmbio (Forex): resumidamente, é onde se compram e vendem moedas. É o maior e mais líquido mercado do mundo, e os participantes especulam sobre as variações nas taxas de câmbio entre as moedas.
4. Mercado de derivados: contratos cujo valor depende do desempenho de outros ativos como ações, moedas ou commodities. São usados para gerir riscos ou para especular sobre futuros movimentos de preços
5. Mercado de commodities: aqui, negociam-se bens físicos como petróleo, ouro, prata, café, entre outros. Os preços destes bens variam de acordo com a oferta e a procura global e são influenciados por fatores como clima e geopolítica
6. Mercado de criptomoedas: um dos mais recentes e muito popular, permite a compra e venda de moedas digitais como Bitcoin e Ethereum. É conhecido pela volatilidade, mas também pela inovação tecnológica que traz.
Em território nacional, o mercado financeiro é relativamente pequeno em comparação com outras economias europeias, mas desempenha um papel importante. Os principais mercados incluem:
1. Euronext Lisboa: é a principal bolsa de valores do país, onde são negociadas as ações das maiores empresas portuguesas como a Galp, EDP e Jerónimo Martins. Esta bolsa faz parte da Euronext, uma plataforma europeia de negociação de ações
2. Mercado de obrigações do tesouro: o governo português emite obrigações para financiar as suas atividades, sendo uma forma segura e estável de investimento
3. Fundos de investimento e seguros financeiros: os fundos de investimento e os seguros de vida são também instrumentos financeiros populares no mercado português que permitem aos investidores diversificar os investimentos.
A nível europeu, existem vários mercados financeiros de grande relevância:
1. Euronext (França, Países Baixos, Bélgica, Portugal): é uma das maiores plataformas de negociação da Europa e agrega bolsas de vários países. Oferece ações, derivados, obrigações e outros instrumentos financeiros
2. Bolsa de Valores de Frankfurt (Deutsche Börse): é uma das mais importantes da Europa e está entre as maiores do mundo. Empresas como a BMW e a Siemens têm as ações cotadas nesta bolsa
3. London Stock Exchange (LSE): apesar do Brexit, continua a ser uma das maiores e mais influentes bolsas de valores do mundo. Muitas empresas internacionais estão listadas na LSE, além de ser um centro de negociação de derivados e moedas
4. Bolsa de Madrid (BME): é a principal bolsa espanhola e tem grande influência no sul da Europa e na América Latina. Empresas como o Banco Santander e a Inditex estão cotadas aqui.
Os mercados financeiros são complexos e envolvem uma variedade de participantes, desde grandes instituições até pequenos investidores individuais. Sem a regulação, os investidores — especialmente os menos experientes — estariam vulneráveis a práticas enganosas, fraudes e manipulação de preços. A regulação impõe regras claras para garantir que os participantes do mercado atuem de forma honesta e transparente, protegendo os investidores de comportamentos abusivos e assegurando que têm acesso a informações corretas e completas para tomar decisões informadas.
A transparência é um dos pilares fundamentais para o bom funcionamento dos mercados financeiros. Os reguladores exigem que empresas e instituições financeiras divulguem informações detalhadas sobre a saúde financeira, transações e riscos, permitindo aos investidores avaliarem com precisão onde estão a colocar o seu dinheiro
Um mercado financeiro mal regulado pode gerar instabilidade económica, tal como foi visto em crises passadas, em que a falta de supervisão adequada levou à especulação excessiva, falências em cadeia e colapsos bancários. A regulação tem como objetivo monitorizar o risco sistémico, ou seja, o perigo de que uma falha num setor ou numa instituição financeira possa representar para todo o sistema. Ao implementarem normas rigorosas de capitalização, liquidez e comportamento de mercado, os reguladores ajudam a prevenir crises financeiras e a proteger a estabilidade económica.
A confiança é fundamental para que os mercados financeiros funcionem de forma eficiente. Quando os investidores sentem que o sistema é justo, transparente e que as transações estão seguras, estão mais propensos a participar nos mercados. A regulação cria um ambiente em que as regras são claras e aplicadas de forma consistente, o que reforça a confiança do público.
Práticas como a manipulação de mercado, insider trading (uso de informações privilegiadas para ganho pessoal) e especulação excessiva podem prejudicar gravemente a integridade dos mercados financeiros. Reguladores como a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em Portugal, têm a responsabilidade de investigar e punir essas práticas, protegendo, assim, os investidores e mantendo os mercados justos para todos os participantes.
Com o surgimento de novas formas de investimento e mercados como, por exemplo, o mercado de criptomoedas, a regulação desempenha um papel fulcral no acompanhamento dessas inovações pois, embora ofereçam oportunidades, novos mercados podem trazer riscos desconhecidos. A regulação destes novos espaços garante que, mesmo com inovações, os princípios de transparência, segurança e equidade sejam mantidos, evitando bolhas especulativas e protegendo os participantes.
Uma das lições mais importantes da História recente, mais particularmente da crise financeira de 2008, é a importância da regulação na prevenção de crises. A falta de supervisão adequada sobre produtos financeiros complexos e altamente especulativos levou ao colapso de grandes instituições financeiras, acabando por afetar economias em todo o mundo. Desde então, houve um esforço coordenado globalmente para reforçar as regras e a supervisão, especialmente em setores mais arriscados como o mercado de derivados e produtos financeiros complexos.
Em Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) é o principal órgão regulador dos mercados financeiros. Esta entidade supervisiona as atividades nos mercados de valores mobiliários, protege os investidores e assegura que as empresas cumprem as regras de divulgação de informações e práticas financeiras.
A nível internacional, há outros reguladores importantes como a Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos, a Financial Conduct Authority (FCA), no Reino Unido, e a Autorité des Marchés Financiers (AMF), em França. Cada um destes órgãos desempenha um papel semelhante no controlo e supervisão dos mercados financeiros nas respetivas regiões.
Investir nos mercados financeiros oferece oportunidades de lucro, mas também envolve riscos.
Para gerir estes riscos, os investidores podem utilizar estratégias como a diversificação, que consiste em distribuir os investimentos por diferentes tipos de ativos, para reduzir o impacto de uma possível perda. Definir um horizonte de investimento claro e estar informado sobre o mercado ajuda, também, a minimizar riscos.
Se está a pensar em começar a investir nos mercados financeiros, aqui estão algumas dicas para se orientar neste universo:
1. Eduque-se: antes de investir, é importante aprender sobre os diferentes mercados e instrumentos financeiros
2. Defina os seus objetivos: tenha claro o que pretende alcançar e em quanto tempo
3. Escolha uma corretora: abra uma conta numa corretora de confiança e que ofereça boas condições para o seu perfil de investidor
4. Pratique: muitas corretoras oferecem contas de demonstração para praticar antes de investir dinheiro real
5. Desenvolva uma estratégia: defina a abordagem de investimento, como entrar e sair de posições, e a gestão de risco.
Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.
O que achou deste artigo?
Queremos continuar a trazer-lhe conteúdos úteis. Diga-nos o que mais gostou.
Agradecemos a sua opinião!
A sua opinião importa. Ajude-nos a melhorar este artigo do Salto.
Agradecemos o seu contributo!