A fast fashion pode ser barata, mas tem custos elevados para o planeta. Conheça o impacto ambiental da moda para usar e deitar fora.
A sustentabilidade está “in” e, por isso, a fast fashion pode estar a caminho de ficar “out”, ou seja, completamente fora de moda. A moda que se produz, vende e descarta rapidamente tem um enorme impacto ambiental, que não se esgota nos milhares de toneladas de peças de vestuário que todos os anos acabam no lixo.
A consciência desse impacto ambiental da fast fashion é cada vez maior, o que começa a gerar já algumas transformações na própria indústria.
Designers, modelos e até personalidades como o Príncipe de Gales, que colaborou na criação de uma coleção de roupa sustentável, feita com materiais ecológicos e seguindo métodos artesanais, pensam cada vez mais verde.
Em Portugal multiplicam-se também as marcas que fazem da sustentabilidade a sua moda. Do calçado vegan ao algodão reciclado, são muitas as opções para reduzir a pegada ecológica deste setor e tornar o verde uma tendência.
A última palavra, porém, é sempre dos consumidores. E para que os hábitos mudem, é importante conhecer o impacto ambiental da fast fashion e perceber que algo que hoje lhe custa pouco dinheiro pode ter um preço muito elevado para as futuras gerações.
Com o aumento das preocupações ambientais multiplicam-se também os estudos sobre o impacto da fast fashion. Os números são bastante claros quanto às consequências deste tipo de produção e consumo.
O estudo “The global environmental injustice of fast fashion” (A injustiça ambiental global da fast fashion, numa tradução livre) de Rachel Bick, Erika Halsey e Christine C. Ekenga, aponta alguns dados relativos ao impacto da fast fashion nos EUA, que podem servir de exemplo.
Todos os anos são comprados 80 mil milhões de peças de vestuário em todo o mundo. Cerca de 85% da roupa que os norte-americanos consomem acaba em aterros. Ou seja, uma média de 36 quilos por cada habitante.
Em Portugal, os dados de 2019 da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) mostram que foram recolhidas 185 mil toneladas de resíduos têxteis, o que equivale a 3,51% dos resíduos sólidos produzidos no país.
Mesmo que a pandemia tenha abrandado o consumo de fast fashion, a verdade é que muita roupa acaba no lixo e, consequentemente, em aterros. Nem todas as autarquias disponibilizam contentores para reutilização de resíduos têxteis e, por isso, serão ainda muitos os artigos de fast fashion que vão para o lixo indiferenciado, sem qualquer hipótese de reciclagem.
A sustentabilidade também diz respeito à forma como esses artigos são produzidos. Para que os preços sejam baixos, a mão-de-obra tem de ser barata.
Países menos desenvolvidos, como Bangladesh ou Paquistão, têm fábricas com más condições de trabalho, empregando pessoas que trabalham muito para ganhar muito pouco. Acidentes e doenças profissionais afetam uma parte significativa dos funcionários, que são expostos a químicos e operam equipamento pouco seguro.
O impacto negativo da fast fashion no ambiente começa, desde logo, na produção da matéria-prima. Fibras como o algodão e o poliéster podem parecer inofensivas, mas não são. O cultivo do algodão, além de grandes quantidades de água, exige pesticidas e fertilizantes, que acabam por poluir os rios, lagos e mares.
Já o poliéster é feito com derivados de petróleo o que contribui para o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2). Além disso, esta fibra sintética tem uma decomposição lenta e liberta microplásticos que acabam por se entranhar na terra e na água.
Estudos feitos por investigadores da University of British Columbia (Canadá) referem que 70 das 71 amostras de água retirada do Ártico continham microplásticos. E que 67% destes microplásticos eram fibras de poliéster.
Os processos para tingir as fibras e para que as cores resistam às lavagens são, igualmente, pouco sustentáveis. Há também que ter em conta as grandes quantidades de água que são necessárias em certas etapas da produção: 900 gramas de roupa podem necessitar de cerca de 200 litros de água.
Um estudo do banco de investimento UBS conclui que a indústria da fast fashion emite mais CO2 do que os setores da aviação e navegação juntos. Estima também que causa cerca de 20% da poluição aquática e que consome 79 mil milhões de metros cúbicos de água por ano.
A boa notícia é que a consciência ambiental está a crescer não só entre os consumidores, mas também entre as marcas. Muitas apostam já em fibras mais sustentáveis, outras promovem a recolha e reciclagem de roupa usada, e há também as que criam linhas de vestuário a partir de materiais reciclados.
O já referido estudo do UBS analisou fatores como alterações no comportamento dos consumidores, maior regulação ou campanhas de alerta e concluiu que é possível, nos próximos 5 a 10 anos, reduzir entre 10 a 30% as vendas de fast fashion.
O esforço para reduzir o impacto ambiental da fast fashion tem de ser conjunto. Se as marcas apostarem em tecidos mais sustentáveis e em roupa mais durável, estarão a ajudar. Mas todos nós, enquanto consumidores, podemos contribuir.
Como? Veja algumas dicas.
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