Já reparou que alguns alimentos, como o café, o açúcar ou a fruta, estão a ficar mais caros? Existem várias razões para o preço dos alimentos estar a aumentar, mas a suspeita do costume – as alterações climáticas – está entre as principais. Saiba que alimentos tendem a ficar mais caros nos próximos anos e como contribuir para um planeta mais sustentável.
“Ir às compras está cada vez mais caro”. Se é daqueles que se queixam regularmente deste fenómeno, vamos dar-lhe uma novidade: tem razão. Saiba que alimentos tendem a ficar mais caros nos próximos anos e como contribuir para um planeta mais sustentável.
Pão, massas e rações para animais são três dos produtos que podem ficar mais caros, devido ao aumento do preço dos combustíveis. Se os dois primeiros estão presentes na nossa alimentação, o terceiro influencia o preço de outro alimento indispensável ao dia a dia de muitos portugueses: a carne.
Mas não é tudo. Café, chocolate, chá, banana e abacate são outros alimentos que, segundo a ONG Rainforest Alliance, estão ameaçados pelas alterações climáticas. Se ainda não sentiu a subida nos preços destes alimentos no supermercado, será uma questão de tempo.
A dependência portuguesa de abastecimento externo de cereais coloca-nos numa situação de “fragilidade caso existam disrupções na cadeia de produção ou aumento de preços”, assume Susana Fonseca, membro da direção da Associação Zero, criada em 2015 para defender os valores da sustentabilidade.
Foi o que aconteceu em 2010, quando uma onda de calor na Rússia resultou numa quebra de 25% da produção de cereais. E se as grandes multinacionais de fabrico de pão, bolos ou cerveja ultrapassaram esta situação com a transferência dos custos para os consumidores, empresas mais pequenas ficaram sem matérias-primas para trabalhar.
Há muitos fatores que contribuem para o aumento do preço dos alimentos, mas os mais relevantes são:
É o grande responsável pela subida dos preços dos alimentos que se está a sentir neste momento.
Os custos de produção dos agricultores estão a subir, devido ao aumento do preço dos combustíveis e da eletricidade, o que, depois, se repercute em todas as áreas, desde o preço das rações para animais, às despesas de transporte. Por fim, chega às prateleiras do supermercado e à carteira dos consumidores.
As alterações climáticas estão na linha da frente dos aumentos do preço dos alimentos. “O setor agrícola é um dos mais expostos às consequências das alterações climáticas”, esclarece Susana Fonseca. Das tempestades secas às inundações que podem destruir colheitas, passando pelo aumento das necessidades hídricas de muitas culturas, há várias ameaças que prejudicam a agricultura global.
“Estima-se, por exemplo, que por cada grau de aumento da temperatura haja uma perda da produção de milho, de soja (3,1%), de trigo (6%) e arroz (3,2%)”, avança Susana Fonseca.
Mas há mais. Os incêndios podem ter um efeito devastador e de longo prazo sobre algumas colheitas, inclusive ao nível de nutrientes como o zinco e o ferro. Por outro lado, alguns dos alimentos mais comuns do planeta podem escassear ou tornarem-se demasiado caros para o cidadão comum.
O caso do abacate é paradigmático. Esta fruta, até há pouco tempo desconhecida entre nós, invadiu os pratos mundiais à boleia das suas propriedades nutricionais. Originário do México, que lidera a produção mundial, o abacate necessita de uma temperatura amena para sobreviver. Sendo o México um dos países mais afetados pelo aumento das temperaturas médias, e com a procura pelo fruto a crescer, é fácil de perceber que o ponto de equilíbrio entre produção e consumo está cada vez mais longe.
Mas o maior problema do abacate é a quantidade de água que consome na sua produção, principalmente nos países da América Latina. Segundo o World Economic Forum, todos os dias são usados cerca de 9,5 mil milhões de litros de água para o seu cultivo. Visto que costumam ser produzidos em áreas propensas à seca, as plantações deste fruto podem colocar em causa o acesso da população local à água.
Em termos de impacto ambiental, o abacate não fica muito bem na fotografia, sendo responsável por elevadas emissões de carbono para a atmosfera. Segundo um estudo conduzido pela Carbon Footprint - uma empresa britânica de consultoria ambiental -, uma embalagem de dois abacates tem uma pegada de carbono equivalente a 846,36 gramas.
“Poderão existir alimentos cujas condições de produção possam torná-los quase inacessíveis”, garante a responsável da Zero. Para estes produtos, que são produzidos longe de Portugal, poderemos vir a “necessitar de uma diminuição do consumo”.
A solução poderá estar numa economia mais circular e uma agricultura sustentável e de proximidade. Em todo o caso, é improvável que existam “produtos erradicados por completo da nossa dieta”.
Estas quatro dicas vão ajudá-lo a contribuir para um Planeta mais sustentável e fazer melhores escolhas.
Além de, por vezes, existirem excedentes na produção nacional, os preços podem ser mais acessíveis. Por outro lado, estes alimentos não têm de ser conservados por um grande período de tempo, nem transportados a partir de longas distâncias. Logo, são mais baratos.
Portugal não produz alimentos suficientes para abastecer o mercado interno. Assim, cada produto adquirido deverá ser consumido e não desperdiçado. Este conselho é extensível às empresas que gerem supermercados e aos restantes elos da cadeia de logística alimentar.
“A ação coletiva dos cidadãos pode ter um impacto importante na criação de uma agricultura de proximidade”, refere Susana Fonseca. Existem organizações e grupos de consumidores que procuram alimentos produzidos localmente, como as AMAP, que têm como objetivo primordial assegurar o escoamento da produção de uma época.
A maioria destes produtores entregam os alimentos à sua porta. Melhor é impossível.
Se queremos minimizar os impactos negativos das alterações climáticas, um dos primeiros passos é regressar à dieta mediterrânica. Trata-se de uma dieta saudável, que usa menos recursos que os outros tipos de alimentação e até nos ajuda a combater muitas das doenças que hoje temos nos países mais desenvolvidos. Reduzir, se possível, o consumo de produtos animais, é outra das propostas defendidas pela associação Zero.
O preço dos alimentos subiu quase 20% nas últimas décadas em todo o mundo, de acordo com um estudo publicado pela ONG norte-americana Earth Policy Institute. E se olharmos apenas para o ano de 2020, a percentagem é ainda mais expressiva: o valor que pagamos pela fruta, peixe, carne ou cereais aumentou, globalmente, 31%, admite a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
Nem todos os países serão afetados da mesma forma, mas não há escape possível a esta tendência que deverá intensificar-se em todo o mundo. Portugal incluído. “Dada a dependência de Portugal no abastecimento de alguns produtos alimentares, como os cereais, uma alteração dos preços internacionais poderá vir a ter reflexos nacionais no preço de venda dos produtos”, explica Susana Fonseca.
O aumento do preço dos alimentos é uma realidade em Portugal e no mundo, mas se todos contribuirmos, podemos aliviar a nossa carteira e ajudar a tornar o planeta mais sustentável.
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