Porque é que o equilíbrio entre a atividade humana e a preservação dos oceanos é importante? Pedro Norton de Matos ajuda-nos a perceber como a saúde de todos começa na saúde do planeta.
70% do nosso planeta é ocupado por mares e oceanos. Chamamos-lhe “planeta Terra”, mas podíamos chamar-lhe “planeta Mar”. Quem o diz é Pedro Norton de Matos, fundador do Greenfest, um dos maiores eventos de sustentabilidade em Portugal.
Sabemos que a água é indispensável à vida (talvez até já tenha adotado alguns hábitos que o ajudam a poupar água). Mas nem sempre nos lembramos que 97% da água disponível no mundo está nos oceanos, ou que é deles que vem mais de 50% do oxigénio que respiramos.
Sabia que os testes PCR para despiste da COVID-19 usam uma bactéria que vive nos vulcões submarinos?
Conheça o impacto da humanidade na saúde dos oceanos e saiba porque cuidar deles é vital para a saúde do planeta – e para a nossa..
Se a Revolução Industrial veio mudar a vida das pessoas para melhor em vários aspetos, não podemos dizer o mesmo do seu impacto no planeta. A partir dos anos 1950, depois da Segunda Guerra Mundial, assistimos a grandes mudanças com consequências sociais e económicas positivas mas, ao mesmo tempo, consequências ambientais negativas como:
Sabemos que as alterações climáticas fazem parte do nosso planeta desde a sua formação. O que é preocupante e traz enormes riscos para o planeta é a aceleração destas alterações, provocada pela atividade humana.
As alterações climáticas impactam os mares e os oceanos de várias formas.
O aumento da temperatura global, por exemplo, provoca um efeito em cadeia e contribui para alterar o ciclo da água. Tal como acontece com a temperatura do ar, assistimos também a uma subida preocupante do nível das águas do mar.
A acidificação da água dos oceanos, fruto das emissões excessivas de CO2 pela atividade humana, pode comprometer a integridade dos ecossistemas marinhos e a sua biodiversidade.
Não é por acaso que conservar e usar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos é um dos objetivos para o desenvolvimento sustentável até 2030.
Para Pedro Norton de Matos, “o sentido de emergência é total” e cada um de nós pode ser um agente de mudança para ajudar a cuidar do planeta e construir um futuro melhor.
O transporte marítimo é um dos principais responsáveis pela poluição dos oceanos, devido ao seu combustível altamente poluente: o gasóleo negro, um subproduto do gasóleo que usamos nos carros.
Mais de 90% do comércio internacional é transportado por mar, sem esquecer os navios turísticos, como cruzeiros.
Uma das alternativas de combustível para os transportes marítimos de longo curso é o hidrogénio. Uma solução promissora, que tem sido investigada e poderá ser crucial no combate à poluição da água do mar.
Pedro Norton de Matos lembra-nos do potencial do mar – e de outros recursos do nosso planeta – para gerar energia de forma sustentável e limpa:
De certeza que já viu fotografias de máscaras contra a COVID-19 espalhadas pelas praias. Os mares e oceanos já não são apenas casa para a biodiversidade que os habita, mas também um repositório do lixo que produzimos em terra, em especial do plástico que descartamos.
O plástico é um material barato, durável e resistente. Trouxe-nos vários benefícios em áreas como a segurança alimentar ou a medicina, e o seu uso consciente tem vantagens.
O problema está no plástico descartável, de uso único: uma parte preocupante deste plástico vai parar aos oceanos, prejudicando a vida marinha e o equilíbrio dos ecossistemas.
O relatório Breaking the Plastic Wave, feito por vários centros de investigação e universidades reputados, como a Fundação Ellen MacArthur, analisa dados recentes sobre o impacto do plástico no mar e compara-os com uma projeção para o futuro próximo. Pedro Norton de Matos considera as previsões assustadoras.
Em comparação com 2016, estima-se que, em 2040, tenhamos:
O mesmo relatório apresenta possíveis caminhos para combater a poluição do mar por plástico.
Na opinião de Pedro Norton de Matos, esta é uma emergência ambiental, na qual cada um de nós tem um papel crucial “enquanto cidadão, no seu dia-a-dia, na sua casa, no seu escritório, na sua cidade, no seu bairro, no seu país e, quem acreditar no condomínio da terra, na terra”.
Os esforços de investigação e desenvolvimento para a sustentabilidade ambiental trazem-nos algumas alternativas animadoras: já há soluções, baseadas na natureza, para materiais com características semelhantes às do plástico mas menos poluentes e mais sustentáveis (feitos a partir de amido de milho ou cana de açúcar, por exemplo).
Estes materiais poderão substituir o plástico de uso único e ajudar a reduzir o seu impacto nos oceanos.
Apesar dos factos preocupantes, há alguns motivos para não perdermos a esperança, aos quais podemos chamar hope spots. Pedro Norton de Matos acredita que ainda vamos a tempo de inverter a situação.
No âmbito dos objetivos de desenvolvimento sustentável, a Agenda 2030 define objetivos ambiciosos de desenvolvimento, do social ao ambiental.
Um dos objetivos é proteger 30% dos oceanos até 2030: ter 1/3 dos oceanos como reservas naturais, com regras que permitam proteger os ecossistemas e a biodiversidade marinha.
Há vários países comprometidos com a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, entre os quais Portugal. Temos centros de investigação, universidades e fundações que trabalham para este objetivo.
Um deles é a Fundação Oceano Azul, focada na literacia, conservação e capacitação para contribuir para um oceano produtivo e saudável, em benefício do nosso planeta.
Pedro Norton de Matos sublinha a importância da investigação para o futuro dos oceanos e refere um projeto interessante, do qual faz parte o oceanógrafo, investigador e professor português Carlos Duarte.
Este projeto internacional tem como objetivo descodificar o genoma do mar e avança cada vez mais rápido graças à capacidade tecnológica da supercomputação. Permite-nos conhecer seres vivos até agora desconhecidos, como algumas bactérias boas que podem ser úteis para vários fins.
Algumas destas bactérias boas existentes nos oceanos, que vivem em condições extremas, já são usadas atualmente em benefício da saúde humana:
A importância dos oceanos e mares na saúde humana é indiscutível.
Conhecer e proteger os ecossistemas marinhos, consumir com consciência os recursos dos oceanos e reduzir a poluição e o lixo no mar são passos fundamentais para cuidar da saúde do planeta e garantir um futuro melhor para todos.
Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.
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