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O que é o cyberbullying e o que fazer numa situação destas?

29 ago 2022 | 8 min de leitura

Quer seja a vítima ou o agressor, as consequências do cyberbullying podem ser devastadoras. Saiba o que é, como lidar e evitar um dos maiores flagelos do mundo internauta.

Cyberbullying: o que é e como evitar

O bullying não é um fenómeno recente, mas a forma como se manifesta mudou desde o surgimento das redes sociais. O que antes estava maioritariamente circunscrito ao recreio da escola, agora ocorre em casa ou no trabalho, de forma anónima, através da internet e das redes sociais.

 

 

O que é o cyberbullying e como é que este se manifesta?

Cyberbullying é definido como qualquer comportamento manifestado por um indivíduo ou um grupo de pessoas que, através de meios digitais e de forma deliberada, transmitam mensagens agressivas ou hostis com a intenção de fazer mal ou causar incómodo ao outro.

 

Segundo Raquel Carvalho, psicóloga clínica da equipa infantojuvenil da Oficina da Psicologia, o assédio virtual pode ter muitas formas:

 

  • Telefonemas anónimos repetidos
  • SMS com insultos ou mensagens ameaçadoras
  • MMS com fotos ou vídeos humilhantes
  • Enviar ou apagar e-mails pessoais de outra pessoa
  • Publicar imagens alteradas ou comentários jocosos
  • Gravar conteúdo inapropriado e publicar online
  • Criar um perfil falso e agir em nome da vítima
  • Bullying nas redes sociais
  • Colocar boatos online

 

Qual a diferença entre bully e cyberbully?

De acordo com a psicóloga, o cyberbullying expressa algumas particularidades que o diferenciam das modalidades convencionais de bullying:

 

  • Pode ser praticado a qualquer momento (24 horas por dia, 7 dias por semana) e em qualquer lugar
  • O agressor aproveita-se das tecnologias para manter-se anónimo
  • A agressão é repetida e intensificada para chegar a um grande número de pessoas

 

A internet funciona, em muitos casos, como um meio intensificador da agressão, gerando mais exposição, pois o agressor pode escrever um único comentário difamatório ou colocar um vídeo humilhante apenas uma vez, mas de cada vez que é visto ou partilhado pode ser percecionado como uma repetição da vitimização.

 

Deste modo, o cyberbullying ultrapassa as limitações que o espaço físico e período escolar conferem ao bullying.

 

 

Quais as causas do cyberbullying?

O estudo do bullying na internet é relativamente recente e poucas pesquisas investigaram as suas causas. No entanto, existem alguns fatores que devem ser tidos em consideração:

 

  • Valores
  • Educação
  • Fatores emocionais
  • Fatores sociais
  • Fatores psicológicos.

 

As crianças ou adolescentes procuram encaixar-se nos diversos grupos sociais. Qualquer diferença que existe num jovem ou adulto é facilmente convertida em objeto de chacota. Por outro lado, as vítimas percebem que estão a ser assediadas por mera diversão do assediador, acabando por se considerar fracas ou inferiores.

 

Uma causa do incremento deste assédio é a massificação das redes sociais e a sua facilidade de acesso, sem limitação de idade. Aumenta, assim, a dificuldade de controlo por parte dos pais e professores, o que complica a detecção do cyberbullying — ao contrário do bullying ou do assédio escolar, que podem ser detetados com maior facilidade.

 

 

Quais as consequências do cyberbullying para as vítimas?

O cyberbullying pode ter consequências graves sobre as crianças ou adolescentes — sejam eles agressores ou vítimas. Podem ter a forma de ”tristeza, frustração, raiva, desconfiança, solidão, absentismo escolar, problemas de saúde, trauma, perturbação de ansiedade, depressão, comportamentos de autodano ou ideias suicidas”, explica a psicóloga.

 

 

A que sinais deverão os pais (ou responsáveis) estar atentos?

Por mais simples que a situação possa parecer aos olhos dos adultos, o sofrimento da criança ou adolescente não deve ser desvalorizado e pode ter repercussões para o resto da vida.

 

É, por isso, “crucial que os pais, educadores, professores, colegas e amigos desempenhem um papel ativo ficando atentos aos sinais de alerta”, explica Raquel Carvalho, enumerando os sinais a que deve estar atento:

 

  • Alterações de humor e comportamento
  • Irritabilidade extrema
  • Alterações no sono ou apetite
  • Decréscimo no rendimento académico
  • Afastamento dos amigos e colegas
  • Isolamento

 

 

Como prevenir o cyberbullying?

“A atenção redobrada e as estratégias preventivas são fundamentais para que os pais possam evitar que os filhos cometam ou sejam vítimas do cyberbullying”, explica a psicóloga. Se quer saber como evitar o cyberbullying, eis alguns conselhos:

 

  • Promova o desenvolvimento de auto-estima, autoconfiança e capacidade de assertividade no seu filho
  • Construa um ambiente familiar que incentive a conversa. Assim, os filhos estarão mais à vontade para partilhar as suas preocupações mais cedo, evitando o isolamento e o segredo
  • Tente distinguir quais os comportamentos toleráveis e os ofensivos e mal-intencionados, bem como perceber a diferença entre pedir ajuda e “fazer queixinhas”
  • Sensibilize as crianças e os jovens para os direitos humanos, sublinhando a empatia e os valores de respeito pelo próximo e aceitação da diferença
  • Mantenha os computadores com acesso à internet em locais comuns da casa
  • Estabeleça regras sobre o uso da tecnologia
  • Sensibilize o seu filho para os perigos da internet e das redes sociais, promovendo o seu uso adequado e seguro. Aconselhe-o a configurar opções de privacidade, a ser seletivo na informação a publicar, a restringir os pedidos de amizade às pessoas de confiança, a manter a password secreta e a fechar os sites que frequenta no computador da escola assim que termina a navegação na internet
  • Certifique-se que seus filhos são respeitosos e deixe claro que quaisquer mentiras, revelação de segredos ou boatos são sempre prejudiciais
  • Assegure que os mais novos têm direito à sua privacidade. Contudo deve fazê-los compreender da necessidade de alguma monitorização por parte dos adultos
  • Fale abertamente sobre o cyberbullying: quanto mais informado o seu filho estiver, mais recursos terá para lidar com possíveis situações desafiantes consigo próprio ou com colegas
  • Hipotetize uma situação de cyberbullying com o seu filho e questione-o sobre o que deveria fazer se fosse uma vítima, um espectador ou um agressor. Incentive-o a relatar o problema de imediato a alguém da sua confiança, sem responder ou vingar-se do ciber agressor

 

 

O meu filho é vítima de cyberbullying. O que posso fazer?

“Se descobrir que o seu filho é vítima de cyberbullying ofereça-lhe apoio e conforto”, lê-se no site Escola Saudavelmente, projeto da Ordem dos Psicólogos. “Garanta-lhe que a culpa não é dele e elogie-o por ter tido a coragem de falar consigo. Recorde-o que não está sozinho — muitas pessoas são vítimas de bullying — e assegure-o de que encontrarão uma solução em conjunto”. É ainda importante que os pais decidam a melhor forma de informar a escola da situação ou, dependendo da gravidade, a polícia.

 

Encoraje a vítima a não responder ao cyberbullying, para não tornar a situação pior. Contudo, as mensagens, fotografias ou interações devem ser guardadas, já que podem servir de provas junto da escola ou da polícia. Outras medidas podem incluir:

 

  • Bloquear o bully das redes sociais
  • Limitar o acesso à tecnologia
  • Verificar regularmente as publicações e sites que o seu filho visita
  • Falar sobre a importância da privacidade e como pode ser negativo partilhar informação pessoal online, mesmo com amigos

 

 

O meu filho é um Cyberbully. O que posso fazer?

Descobrir que o seu filho não tem um comportamento adequado pode ser devastador. No entanto, é importante enfrentar o problema e resolvê-lo.

 

O Projeto Escola Saudavelmente recomenda que fale com o seu filho de forma calma, mas firme. “Discuta o impacto negativo que os seus comportamentos tiveram nos outros”, pode ler-se no projeto da Ordem dos Psicólogos. O cyberbullying não é um comportamento aceitável e pode ter consequências sérias (às vezes, permanentes) em casa, na escola e na comunidade.

 

É ainda importante recordar a criança ou jovem de que o uso das plataformas digitais é um privilégio. Pode restringir a sua utilização até que o comportamento melhore e definir controlos parentais rígidos em todas as plataformas digitais. Por fim, procure ajuda. Um psicólogo pode ajudar.

 

 

Como denunciar o cyberbullying?

Quando a vítima se sente ameaçada na sua integridade física, o comportamento consiste num ato criminoso ou reflete a prática de um crime, como por exemplo injúrias e/ou difamação, poderá efetuar queixa-crime junto das autoridades competentes. Caso se trate de um menor, cabe ao adulto responsável efetuar a queixa ou sinalizar a situação junto de entidades que possam intervir e colaborar para a sua resolução, como a Escola ou a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens.

 

 

Onde procurar ajuda?

  • PortalBullying. É um centro de ajuda online. Neste site, os jovens que estejam a passar por momentos de bullying ou cyberbullying podem conversar com psicólogos que os ajudem a ultrapassar as dificuldades
  • Escola Sem Bullying. Escola Sem Violência. É uma iniciativa inserida no âmbito do Plano de Prevenção e Combate ao Bullying e Cyberbullying, onde são disponibilizados diversos recursos dirigidos a alunos, encarregados de educação e professores para ajudar a prevenir e lidar com este flagelo
  • No Bully Portugal. Associação sem fins lucrativos que tem como objetivo prevenir, parar e resolver o bullying e cyberbullying através da formação de adultos e sessões de sensibilização para crianças e jovens.

 

 

 

Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.

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