Quer seja a vítima ou o agressor, as consequências do cyberbullying podem ser devastadoras. Saiba o que é, como lidar e evitar um dos maiores flagelos do mundo internauta.
O bullying não é um fenómeno recente, mas a forma como se manifesta mudou desde o surgimento das redes sociais. O que antes estava maioritariamente circunscrito ao recreio da escola, agora ocorre em casa ou no trabalho, de forma anónima, através da internet e das redes sociais.
Cyberbullying é definido como qualquer comportamento manifestado por um indivíduo ou um grupo de pessoas que, através de meios digitais e de forma deliberada, transmitam mensagens agressivas ou hostis com a intenção de fazer mal ou causar incómodo ao outro.
Segundo Raquel Carvalho, psicóloga clínica da equipa infantojuvenil da Oficina da Psicologia, o assédio virtual pode ter muitas formas:
De acordo com a psicóloga, o cyberbullying expressa algumas particularidades que o diferenciam das modalidades convencionais de bullying:
A internet funciona, em muitos casos, como um meio intensificador da agressão, gerando mais exposição, pois o agressor pode escrever um único comentário difamatório ou colocar um vídeo humilhante apenas uma vez, mas de cada vez que é visto ou partilhado pode ser percecionado como uma repetição da vitimização.
Deste modo, o cyberbullying ultrapassa as limitações que o espaço físico e período escolar conferem ao bullying.
O estudo do bullying na internet é relativamente recente e poucas pesquisas investigaram as suas causas. No entanto, existem alguns fatores que devem ser tidos em consideração:
As crianças ou adolescentes procuram encaixar-se nos diversos grupos sociais. Qualquer diferença que existe num jovem ou adulto é facilmente convertida em objeto de chacota. Por outro lado, as vítimas percebem que estão a ser assediadas por mera diversão do assediador, acabando por se considerar fracas ou inferiores.
Uma causa do incremento deste assédio é a massificação das redes sociais e a sua facilidade de acesso, sem limitação de idade. Aumenta, assim, a dificuldade de controlo por parte dos pais e professores, o que complica a detecção do cyberbullying — ao contrário do bullying ou do assédio escolar, que podem ser detetados com maior facilidade.
O cyberbullying pode ter consequências graves sobre as crianças ou adolescentes — sejam eles agressores ou vítimas. Podem ter a forma de ”tristeza, frustração, raiva, desconfiança, solidão, absentismo escolar, problemas de saúde, trauma, perturbação de ansiedade, depressão, comportamentos de autodano ou ideias suicidas”, explica a psicóloga.
Por mais simples que a situação possa parecer aos olhos dos adultos, o sofrimento da criança ou adolescente não deve ser desvalorizado e pode ter repercussões para o resto da vida.
É, por isso, “crucial que os pais, educadores, professores, colegas e amigos desempenhem um papel ativo ficando atentos aos sinais de alerta”, explica Raquel Carvalho, enumerando os sinais a que deve estar atento:
“A atenção redobrada e as estratégias preventivas são fundamentais para que os pais possam evitar que os filhos cometam ou sejam vítimas do cyberbullying”, explica a psicóloga. Se quer saber como evitar o cyberbullying, eis alguns conselhos:
“Se descobrir que o seu filho é vítima de cyberbullying ofereça-lhe apoio e conforto”, lê-se no site Escola Saudavelmente, projeto da Ordem dos Psicólogos. “Garanta-lhe que a culpa não é dele e elogie-o por ter tido a coragem de falar consigo. Recorde-o que não está sozinho — muitas pessoas são vítimas de bullying — e assegure-o de que encontrarão uma solução em conjunto”. É ainda importante que os pais decidam a melhor forma de informar a escola da situação ou, dependendo da gravidade, a polícia.
Encoraje a vítima a não responder ao cyberbullying, para não tornar a situação pior. Contudo, as mensagens, fotografias ou interações devem ser guardadas, já que podem servir de provas junto da escola ou da polícia. Outras medidas podem incluir:
Descobrir que o seu filho não tem um comportamento adequado pode ser devastador. No entanto, é importante enfrentar o problema e resolvê-lo.
O Projeto Escola Saudavelmente recomenda que fale com o seu filho de forma calma, mas firme. “Discuta o impacto negativo que os seus comportamentos tiveram nos outros”, pode ler-se no projeto da Ordem dos Psicólogos. O cyberbullying não é um comportamento aceitável e pode ter consequências sérias (às vezes, permanentes) em casa, na escola e na comunidade.
É ainda importante recordar a criança ou jovem de que o uso das plataformas digitais é um privilégio. Pode restringir a sua utilização até que o comportamento melhore e definir controlos parentais rígidos em todas as plataformas digitais. Por fim, procure ajuda. Um psicólogo pode ajudar.
Quando a vítima se sente ameaçada na sua integridade física, o comportamento consiste num ato criminoso ou reflete a prática de um crime, como por exemplo injúrias e/ou difamação, poderá efetuar queixa-crime junto das autoridades competentes. Caso se trate de um menor, cabe ao adulto responsável efetuar a queixa ou sinalizar a situação junto de entidades que possam intervir e colaborar para a sua resolução, como a Escola ou a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens.
Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.
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