Calcular a liquidez de uma empresa é essencial para perceber não só o presente, mas também o futuro dessa empresa.
A falta de liquidez para fazer face a compromissos imediatos é um indicador preocupante, mas existem formas de resolver esta questão bem como evitar que se torne frequente.
O conceito de liquidez de uma empresa é, no fundo, bastante semelhante a certos aspetos da nossa vida quotidiana. Quando no seu dia a dia coloca questões como: “Tenho dinheiro suficiente para pagar as contas deste mês?” ou “Se precisar de dinheiro, como posso consegui-lo?” está a gerir a sua liquidez.
Numa escala obviamente maior e com outras variantes, é também uma das principais questões na gestão de uma empresa. Sem liquidez será difícil pagar a fornecedores, a funcionários e ao Estado, pelo que pode ser necessário tomar medidas para resolver e inverter esta situação.
Do ponto de vista financeiro, a liquidez é a facilidade com que se transforma um determinado ativo/investimento em dinheiro sem que isso implique uma perda de valor.
A liquidez envolve, de facto, duas dimensões: a facilidade de conversão (ou seja, o tempo que demora a converter o ativo ou investimento em dinheiro) e eventual perda de valor (ou seja, a transação ocorrer a um preço mais baixo do que o valor desse ativo).
Por exemplo, se for uma conta bancária à ordem, pode levantar o dinheiro imediatamente e sem perder nada. Mas se quiser vender um imóvel, levará mais tempo e, caso tenha muita urgência, pode ter de vender por um preço inferior ao de mercado.
Logo, podemos concluir que um ativo com alta liquidez é aquele que pode ser convertido em dinheiro rapidamente, sem que haja uma perda de valor.
Assim, e aplicando este princípio a uma empresa, pode dizer-se que a liquidez financeira é a capacidade da entidade para obter dinheiro para cumprir as suas obrigações a curto prazo.
Por isso, a liquidez de uma empresa é maior se os seus ativos forem constituídos por dinheiro e depósitos bancários ou puderem ser rapidamente convertidos em dinheiro.
Sendo a liquidez a capacidade de pagar as contas, a gestão da liquidez, a curto ou médio prazo, é fundamental para que a sua empresa não enfrente dificuldades ou tenha, pelo menos, mais capacidade para lidar com elas.
Então, como pode fazer esta gestão de uma forma eficaz?
Comece por analisar dois indicadores importantes: em primeiro lugar, os influxos operacionais, isto é, as vendas da sua empresa. Depois, tenha em conta o tempo que esses produtos ou serviços que vende demoram a ser pagos.
Se existem atrasos nos pagamentos dos clientes, ou se estes têm prazos muito dilatados para efetuar esse pagamento, poderá estar a criar um problema na tesouraria da sua empresa.
Se vende mas não recebe, é possível que tenha de atrasar os pagamentos a fornecedores ou até ao Estado. Ou seja, cria-se um efeito “bola de neve”. As dívidas, a que se juntam juros de mora ou até cortes de fornecimento, vão agravar a situação da empresa.
Assim, e para evitar este problema, é importante rever a eficácia das cobranças e a política de pagamentos a fornecedores. O prazo de recebimentos deve ser sempre inferior ao prazo de pagamento, para não ter problemas de liquidez.
O ideal seria ter prazos de recebimento curtos, para ter liquidez mais rapidamente. Já no que respeita aos pagamentos a fornecedores, pode escolher dois caminhos:
Outra ferramenta importante é a gestão dos inventários: produtos nas prateleiras não rendem; mas se não tiver capacidade de dar resposta às necessidades dos clientes não será capaz de vender.
Assim, é fundamental conseguir um equilíbrio, de forma a ter stock suficiente para as vendas e vender o suficiente para ter liquidez para continuar a comprar ou a produzir stock.
Ainda no que respeita ao ciclo de tesouraria, é importante ter em conta as despesas essenciais ao funcionamento da empresa, como salários, rendas, fornecimento de serviços, viaturas, seguros, etc.
Uma das formas de gerir a liquidez passa pela forma como se aplicam ou não as verbas disponíveis, como o dinheiro em caixa e os depósitos. Ou seja, decidir o que fazer com o dinheiro em caixa caso haja um excedente.
Muitas empresas optam por investir em equipamentos, tecnologia ou Investigação & Desenvolvimento, outras preferem aplicar esses montantes em depósitos bancários que possam mobilizar facilmente. Tudo depende do contexto e do plano de negócio.
Não existem fórmulas universais. No entanto, e num contexto mais complexo, deverá analisar bem todos os indicadores do ciclo de tesouraria e corrigir os desequilíbrios.
O financiamento - quer através de aumentos de capital ou recorrendo a empréstimos bancários - é uma forma de aumentar a liquidez.
O recurso a programas específicos de apoio e financiamento, como fundos europeus, é outra possibilidade, tendo como vantagem o facto de poder acrescentar valor. É o que acontece, por exemplo, no caso de programas destinados à modernização, digitalização e internacionalização.
Vender ativos pode ser outra forma de obter mais liquidez para a empresa, mas, como já vimos inicialmente, tudo depende dos ativos e da sua capacidade para gerar liquidez.
Calcular a liquidez de uma empresa implica analisar todos os dados da contabilidade e fazer contas com base em determinados valores.
Como existem vários tipos de liquidez e diferentes fórmulas, vejamos, de uma forma simples, como fazer os cálculos e quais os valores ideais.
Indica a capacidade que determinada empresa tem para cumprir os seus compromissos a curto prazo (12 meses).
Pode ser calculado usando a fórmula:
Ativo Corrente / Passivo Corrente
ou, se quisermos ser mais precisos:
(Clientes + Inventários + Estado e outros entes públicos + Outras contas a receber + Depósitos bancários + Caixa) / ( Fornecedores + Estado e outros entes públicos + Outras contas a pagar)
Feitas as contas, e de uma forma geral, diz-se que existe liquidez sempre que este índice é superior a 1.
No entanto, este valor pode não ser suficiente para dizer, com precisão, se existe liquidez. Há que ter em conta outros fatores que podem complicar estas contas, como por exemplo, o tempo médio de pagamento e o tempo médio de recebimento.
Também conhecido como “acid test”, pode ser um indicador mais preciso do que a liquidez geral: indica a capacidade que a empresa tem em pagar as dívidas se deixar imediatamente de vender.
Por isso, exclui inventários que incluem os produtos e matérias-primas. Além de não poderem ser imediatamente convertidos em dinheiro, em caso de falência são dos ativos mais suscetíveis a perdas.
Assim, é calculada pela fórmula:
(Ativo Corrente – Inventários ) / Passivo Corrente
o que equivale a
(Clientes + Estado e outros entes públicos + Outras contas a receber + Caixa) / (Fornecedores + Estado e outros entes públicos + Outras contas a pagar + Outros passivos financeiros)
Tal como acontece com a liquidez geral, um rácio de 1 é encarado como um resultado positivo e se for superior a esse valor significa que a empresa está saudável do ponto de vista financeiro.
Ainda assim, se o resultado for bastante superior, pode indicar que nem todo o potencial da empresa está a ser aproveitado.
Se o resultado for inferior a 1, a empresa pode estar bastante dependente das vendas futuras. No entanto, nem sempre isto indica problemas de liquidez.
Este indicador diz qual é o valor que está imediatamente disponível para fazer face às dívidas a curto prazo. A diferença em relação à liquidez reduzida é que não inclui as dívidas de terceiros, como as contas a receber.
Assim, é calculada da seguinte forma:
Disponibilidades (Caixa e depósitos bancários) / Passivo Corrente
O facto de o valor do rácio ser elevado pode não ter muito significado. Isto porque muitas vezes as empresas preferem investir em vez de terem o dinheiro em depósitos bancários de rentabilidade reduzida. Outras vezes aproveitam para reduzir os passivos relacionados com empréstimos.
Para calcular a liquidez de uma empresa podem também ser usados indicadores como o prazo médio de recebimento ou de pagamento.
Idealmente o prazo de recebimento de clientes deverá ser inferior ao prazo médio de pagamento. Se a empresa demorar muito a pagar a fornecedores ou a receber dos clientes, isto pode indicar uma liquidez baixa.
Muitas vezes, quando as empresas têm dificuldade em receber dos clientes, atrasam também os pagamentos aos fornecedores. Ou seja, os problemas de tesouraria agravam-se.
E se os atrasos ocorrerem nos pagamentos ao Estado (Finanças e Segurança Social), a questão torna-se mais complexa: além de juros de mora e eventuais processos de execução, ter dívidas para com estas entidades faz com que a empresa não possa participar em concursos públicos ou candidatar-se a apoios estatais e europeus, nem mesmo obter financiamento bancário.
Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.
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