O despertador toca. Pega no telemóvel para o adiar por 10 minutos e encontra logo a antevisão do seu dia: que tempo está, se chove ou faz sol, quantas reuniões tem agendadas e outros compromissos. Espreita logo as notificações, desde as novidades das suas redes sociais às primeiras notícias da manhã.
Estamos ligados à tecnologia 24 horas por dia. E os resultados dessa forma de estar vêem-se na saúde.
Conheça algumas das doenças mais comuns causadas pela tecnologia e pelo uso excessivo da internet e saiba como combater os efeitos a curto e longo prazo na sua saúde.
Olhos secos e vista cansada. É provável que o seu oftalmologista já lhe tenha dado este diagnóstico, porque pestanejamos muito menos vezes enquanto olhamos para um ecrã.
Também pode sentir irritação ou comichão nos olhos e hipersensibilidade à luz.
O resultado é que os olhos ficam menos lubrificados com a lágrima natural e, por isso, mais secos. De certeza que já teve a sensação de vista cansada quando desliga o computador no final de um dia de trabalho.
Mas há outros problemas associados. A falta de lubrificação pode causar lesões no olho, além das dores de cabeça que resultam do esforço que faz para focar a visão no ecrã – do computador, do tablet, do telemóvel...
O que fazer para proteger a sua visão do uso da tecnologia?
1. Faça pausas a cada hora
Se for preciso, levante-se e foque uma imagem ao longe, a pelo menos 5 metros de distância.
Não basta trocar o computador pelo telemóvel, este é o momento em que deve dar descanso aos seus olhos durante alguns minutos.
2. Pestaneje várias vezes
Faça um esforço para treinar os seus olhos a pestanejar mais vezes, para combater a tendência natural em frente ao ecrã.
Se o seu médico oftalmologista recomendar, use gotas que ajudam a lubrificação do olho.
3. Procure as soluções da tecnologia
Existem proteções para ecrã que diminuem o reflexo e, assim, o desconforto para a sua visão.
Ajuste a luminosidade do ecrã e a nitidez da imagem para evitar fazer demasiado esforço enquanto olha para o seu dispositivo.
Garanta que o ambiente onde está tem luz suficiente – evite ambientes escuros e ecrãs com luminosidade no máximo.
4. Coloque o ecrã ao nível dos olhos
É essencial manter o ecrã do computador ao nível dos olhos se trabalhar na mesma postura várias horas, todos os dias.
Também deve evitar estar demasiado perto dos ecrãs. Os seus olhos agradecem.
Gosta de estudar ou trabalhar enquanto ouve música? Pode estar a prejudicar a sua audição para o futuro.
Está provado que ouvir sons demasiado altos prejudica a audição a longo prazo. Mas o som repetitivo muito perto do ouvido também tem efeitos negativos.
Por isso, tome desde já medidas preventivas:
1. Defina limites
Alguns dispositivos avisam quando está a aumentar o volume de som acima do recomendado. Veja se o seu telemóvel permite ativar esta funcionalidade.
2. Faça pausas
Em cada hora que passar a ouvir música, pare durante alguns minutos. A sua audição também precisa de descanso.
3. Prefira auscultadores externos
Os auscultadores internos estão mais perto do ouvido e têm mais impacto negativo na audição.
Prefira também auscultadores que bloqueiam o ruído, para evitar aumentar muito o volume como forma de bloquear sons externos.
“Endireita as costas!” Quantas mães dizem isto?
É fácil cair no erro de ter uma postura errada quando se está muitas horas sentado a trabalhar ao computador. Esse é um dos principais fatores de dor e desconforto que pode sentir ao final do dia e que pode mesmo dar origem a problemas mais sérios.
Mas não é o único.
Quantas vezes está no sofá a relaxar e a percorrer o feed das suas redes sociais? Sem se aperceber, é provável que vá baixando a cabeça. O seu pescoço ressente-se dessa má postura e pode sentir dores cervicais.
Ao computador, sente-se de costas direitas e pés bem assentes no chão. Levante-se e vá fazendo pausas durante o dia.
Experimente fazer algumas reuniões de pé, mesmo que esteja em teletrabalho.
Conheça outras recomendações sobre como manter a boa postura enquanto usa tecnologias.
Já ouviu falar em síndrome do túnel cárpico? É uma doença, causada pela compressão do nervo mediano no túnel do carpo, que provoca dormência nas mãos e nos dedos, uma sensação de formigueiro, e que pode causar perda de sensibilidade.
É uma das doenças associadas ao uso frequente de tecnologia, sobretudo com movimentos repetitivos e constantes, como escrever num teclado de computador ou utilizar um rato.
Outros movimentos como o scroll e swipe sucessivos nos ecrãs táteis podem causar tendinite no polegar, porque este dedo faz força ao segurar o dispositivo e repetições enquanto navega nas suas aplicações favoritas.
As dicas que pode seguir, neste caso, passam muito pelo tempo de descanso.
Faça intervalos na utilização do computador e do telemóvel, porque o excesso está na origem das doenças físicas de que aqui falamos.
Quando publica uma fotografia nas suas redes sociais, quer ver logo as reações. Quantos gostos teve ao fim de 5 minutos? E ao fim de 6? Quantos comentários teve passados 10 minutos?
Essa necessidade constante de ver as reações aos seus posts tem por trás um sistema de recompensa, que é a base da arquitetura das redes sociais e da forma como mexem com as nossas respostas biológicas e psicológicas.
Tudo começa na ativação da dopamina, uma substância que o cérebro produz em resposta a certos estímulos e que é conhecida por despoletar a sensação de prazer.
A dopamina é bem conhecida no mundo da tecnologia e, em particular, das redes sociais. Quando somos estimulados a fazer uma certa ação, está implícito que vamos ser recompensados por isso, vamos sentir-nos satisfeitos.
Se essa recompensa realmente chegar, a ação torna-se um hábito. E assim surge a dependência ou o vício.
As próprias redes sociais convidam-nos a manter uma ligação constante: o que há de novo, quem mandou mensagens, que comentários forem feitos, quem viu o perfil...
E quando a rede social pergunta se quer mandar os parabéns ao seu amigo?
A ansiedade, o stress e a dependência são doenças causadas pelo uso excessivo da tecnologia.
Real é também o chamado Fear of Missing Out (FOMO). Trata-se do sentido de urgência que as redes sociais transmitem, que leva os utilizadores a sentir que estão a perder o que de melhor os outros vivem. Mas a verdade é que só mostramos o nosso melhor nas publicações.
A pergunta é: como parar?
1. Procure fazer uma atividade sem tecnologia
Quer aprender a tocar guitarra? É o momento. Pintar com aguarelas? Aproveite a oportunidade para dar asas à imaginação e guarde alguns minutos todos os dias para desenvolver um hábito não digital.
2. Desafie os seus amigos
O primeiro a tocar no telemóvel, paga a conta do jantar. A ideia não é nova, mas é uma boa forma de pôr o foco nas interações físicas sem os estímulos constantes das redes sociais.
3. Compreenda a psicologia das redes sociais
Pode começar por ver o documentário “The Social Dilemma”, da Netflix, sobre os efeitos das redes sociais nos utilizadores, em especial nos mais novos. Até os mais céticos têm aqui material de reflexão.
Troque ideias com os seus amigos sobre o que sentem quando usam as apps sociais.
Experimente deixar o seu telemóvel no bolso até acabar de ler este artigo.
Se, a meio do desafio, sentir que o seu dispositivo vibrou mas não tiver nenhuma notificação, pode estar a passar pela síndrome da vibração fantasma.
Há quem defenda que a tecnologia está a reprogramar os nossos cérebros e quem diga que os telemóveis se tornaram uma extensão do corpo humano.
A verdade é que determinadas sensações corporais ou sons podem enganar o cérebro e fazer-nos pensar que alguém está a telefonar ou a enviar uma mensagem.
A pandemia e o teletrabalho trouxeram as intermináveis reuniões virtuais em plataformas como o Zoom, que empresta o nome a esta síndrome.
A fadiga de Zoom – ou de videochamadas – é a exaustão física, psicológica e cognitiva depois de passar horas em reuniões virtuais.
Um estudo recente descobriu que a sensação de fadiga resulta de 4 fatores:
A luz dos ecrãs dos dispositivos mantém-nos despertos, pois faz com que o organismo produza menos melatonina, a hormona responsável pela regulação do sono. No fundo, é como se enviasse sinais ao nosso cérebro de que deve manter-se ativo porque está de dia.
É por isso que os médicos recomendam desligar os ecrãs, pelo menos, uma hora antes de irmos dormir.
O inverso pode provocar alterações no padrão de sono e até mesmo insónias.
Nem tudo é mau.
É verdade que a tecnologia promove um estilo de vida sedentário, desde logo por nos fazer passar longas horas sentados em frente aos ecrãs. Mas também existem efeitos positivos da forte presença da tecnologia nos nossos dias.
Como é que a tecnologia pode ajudar a saúde?
1. Apps de exercício físico
Quantas vezes o seu relógio inteligente lhe deu os parabéns por ter feito milhares de passos num só dia?
Muitos telemóveis e relógios já monitorizam os passos e outros indicadores de saúde. Além disso, pode descarregar aplicações com dicas de exercício físico e programas de treino físico e mental.
2. Acompanhamento do sono
A própria tecnologia já diz quando está na hora de desligar. Existem funcionalidades nos dispositivos que podem avisar quando está na altura de ir dormir para garantir o número de horas de sono necessário.
Além disso, embora possa ser um hábito discutível, se dormir com o seu relógio inteligente vai poder ter uma leitura do seu padrão de sono e uma avaliação da sua qualidade.
3. Assistente pessoal sempre ao dispor
Contar calorias e controlar os alimentos ingeridos é mais fácil através das aplicações que existem nos dispositivos móveis.
Além de ajudar a cumprir a dieta e a ter uma alimentação saudável, chegámos ao ponto em que a tecnologia até nos lembra que está na hora de satisfazer as nossas necessidades mais básicas, como beber água.
4. Registo de sinais de alarme
A indústria dos wearables (dispositivos que usamos) introduziu alterações grandes na forma como a tecnologia pode ser colocada ao serviço da saúde.
Alguns relógios inteligentes registam a pulsação e identificam batimentos cardíacos irregulares. Sendo que as doenças cardiovasculares são uma das principais causas de morte no mundo, ter um aviso de que algo está errado pode até salvar vidas.
Há mesmo relógios que já fazem eletrocardiogramas. Nada que substitua uma ida ao médico, mas pode ser muito útil.
Outros modelos conseguem identificar que o utilizador está a passar por níveis de stress elevados e sugerir, em resposta, exercícios de respiração.
5. Ajuda de emergência
É possível fazer uma chamada de emergência no seu telemóvel, mesmo sem ter de o desbloquear. Mas já o sabemos há muito tempo.
A novidade está, mais uma vez, nos relógios inteligentes.
Alguns modelos detetam quedas e permitem avisar de imediato os contactos de emergência. É uma funcionalidade importante sobretudo para pessoas mais velhas.
6. Diagnóstico precoce de doenças
A saúde e a tecnologia deram mãos e já estão a investigar a utilização da tecnologia na deteção de algumas doenças.
No Reino Unido, está a ser estudada a forma como os relógios inteligentes podem detetar os primeiros sinais de demência e da doença de Alzheimer.
Nestes casos, a tecnologia é útil ao reconhecer irregularidades nos padrões de saúde, por exemplo, na atividade cerebral, na fala e nos movimentos. Podem ser pequenas alterações que passam despercebidas ao olho humano, seja porque nem damos por elas ou porque julgamos serem resultado de cansaço e outros fatores pontuais.
A Google aliou-se a uma empresa de inteligência artificial e desenvolveu um algoritmo que conseguiu ser mais eficiente do que os técnicos no rastreio de casos de cancro de mama, reduzindo o número de falsos positivos e negativos.
Pese os benefícios da tecnologia e o seu custo: o preço desta monitorização constante é pago com os seus dados. Mas o que ganha em troca?
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